O que acontece quando o nosso sistema imunitário, por erro, ataca o sistema nervoso?
en-GBde-DEes-ESfr-FR

O que acontece quando o nosso sistema imunitário, por erro, ataca o sistema nervoso?

12/12/2025 Bial Foundation

Revisão científica sobre doenças neurológicas autoimunes revela detalhes sobre o que acontece no nosso corpo quando o sistema imunitário, por erro, produz anticorpos que atacam uma proteína essencial para o funcionamento normal dos nervos. O resultado é hiperexcitabilidade, ou seja, sinais elétricos descontrolados que provocam atividade muscular contínua e involuntária.

As doenças neurológicas autoimunes, como a Esclerose Múltipla, são condições em que o sistema imunitário, por erro, ataca estruturas do próprio sistema nervoso central ou periférico, como neurónios, axónios, mielina ou proteínas específicas. Uma dessas proteínas denomina-se Contactin-associated protein-like 2 (CASPR2) e é essencial para o funcionamento normal dos nervos, porque ajuda a organizar os canais que regulam os sinais elétricos. Quando tudo está bem, esses sinais chegam aos músculos de forma ordenada, permitindo os movimentos normais do nosso corpo.

Pelo contrário, quando o sistema imunitário produz anticorpos que atacam essa proteína, ocorre inflamação, danos nos neurónios e diversos sintomas neurológicos. É como se alguém sabotasse os semáforos numa cidade: o trânsito (os sinais elétricos) fica caótico. Nos nervos, isso traduz-se em hiperexcitabilidade, ou seja, sinais elétricos descontrolados que provocam movimentos musculares involuntários, espasmos e alterações na comunicação entre nervos e músculos.

Uma equipa de investigadores, entre os quais o neurologista João Moura (ULS Santo António, ICBAS-U.Porto), apoiado pela Fundação Bial, publicou a revisão Neuromyotonia and CASPR2 Antibodies: Electrophysiological Clues to Disease Pathophysiology na revista científica Biomolecules, que se foca nos anticorpos que atacam a proteína CASPR2 e aprofunda em particular o seu papel na Neuromiotonia, também conhecida como síndrome de Isaacs, uma doença neuromuscular rara caracterizada por hiperexcitabilidade dos nervos periféricos, que provoca atividade muscular contínua e involuntária.

A revisão analisa estudos já existentes para explicar como estes anticorpos interferem com os canais de potássio nos axónios, estruturas fundamentais para manter o equilíbrio elétrico dos nervos. Estes canais funcionam como “válvulas” que controlam a entrada e saída de cargas elétricas, garantindo que os sinais nervosos são transmitidos de forma segura. Quando os anticorpos atacam a CASPR2, estas válvulas deixam de estar bem organizadas, e os nervos entram num estado de hiperexcitabilidade, enviando sinais repetidos e fora de tempo.

O artigo descreve também as manifestações clínicas mais típicas, como neuromiotonia (contrações musculares persistentes e involuntárias, que podem causar rigidez e fadiga) e mioquimias (movimentos ondulatórios visíveis sob a pele, como se os músculos “tremessem” em pequenas ondas). Além disso, discute os desafios no diagnóstico destas doenças raras, que muitas vezes são confundidas com outras patologias neurológicas. Nem todos os doentes apresentam anticorpos detetáveis nos exames atuais (os chamados casos seronegativos), o que torna a investigação ainda mais necessária.

“Este trabalho é importante porque ajuda a consolidar o conhecimento atual e a identificar lacunas na investigação, abrindo caminho para diagnósticos mais rápidos e precisos e, no futuro, para tratamentos mais eficazes”, reflete João Moura.

A revisão insere-se no projeto de doutoramento que valeu ao investigador a Bolsa de Doutoramento Nuno Grande 2023, dedicada ao estudo das encefalites autoimunes, ou seja, doenças inflamatórias do cérebro causadas por anticorpos contra proteínas neuronais, que podem provocar alterações cognitivas, crises epiléticas e sintomas psiquiátricos.
"Neuromyotonia and CASPR2 Antibodies: Electrophysiological Clues to Disease Pathophysiology", João Moura, Pietro Antenucci, Ester Coutinho, Kailash P. Bhatia, Lorenzo Rocchi, Anna Latorre, Biomolecules 2025, 15, 1262. https://doi.org/10.3390/biom15091262.
12/12/2025 Bial Foundation
Regions: Europe, Portugal, North America, United States
Keywords: Health, Medical, People in health research, Science, Life Sciences

Disclaimer: AlphaGalileo is not responsible for the accuracy of content posted to AlphaGalileo by contributing institutions or for the use of any information through the AlphaGalileo system.

Testimonials

For well over a decade, in my capacity as a researcher, broadcaster, and producer, I have relied heavily on Alphagalileo.
All of my work trips have been planned around stories that I've found on this site.
The under embargo section allows us to plan ahead and the news releases enable us to find key experts.
Going through the tailored daily updates is the best way to start the day. It's such a critical service for me and many of my colleagues.
Koula Bouloukos, Senior manager, Editorial & Production Underknown
We have used AlphaGalileo since its foundation but frankly we need it more than ever now to ensure our research news is heard across Europe, Asia and North America. As one of the UK’s leading research universities we want to continue to work with other outstanding researchers in Europe. AlphaGalileo helps us to continue to bring our research story to them and the rest of the world.
Peter Dunn, Director of Press and Media Relations at the University of Warwick
AlphaGalileo has helped us more than double our reach at SciDev.Net. The service has enabled our journalists around the world to reach the mainstream media with articles about the impact of science on people in low- and middle-income countries, leading to big increases in the number of SciDev.Net articles that have been republished.
Ben Deighton, SciDevNet

We Work Closely With...


  • e
  • The Research Council of Norway
  • SciDevNet
  • Swiss National Science Foundation
  • iesResearch
Copyright 2025 by AlphaGalileo Terms Of Use Privacy Statement