No decorrer da sexta maior extinção em massa de espécies no planeta Terra, nunca foi tão importante conhecer a biodiversidade que o habita. A maioria da biodiversidade do nosso planeta existe nos Oceanos, onde também se encontram a maioria das espécies que ainda não conhecemos, biodiversidade esta comumente conhecida como os ´dark taxa´. Taxa são a unidade taxonómica associada à classificação científica de seres vivos em reino, filo, classe, ordem, família, género e espécie e que nos permite organizar as espécies entre si.
Os investigadores do CIIMAR-UP estiveram sempre envolvidos na descrição de novos taxa marinhos e aquáticos ou colaboraram em artigos que os descreveram. Estes investigadores contribuíram para a descrição de 101 taxa aquáticos que habitam tanto meios estuarinos como o meio marinho, em diversas áreas geográficas. Esta biodiversidade de mais de uma centena de organismos novos para a ciência inclui desde grandes ranks taxonómicos, como 1 nova ordem ou 2 novas famílias, até ranks taxonómicos mais específicos que incluem 22 géneros, 90 espécies e 1 variedade nova para a ciência.
A importância da taxonomia
A taxonomia tem um papel fundamental quando coloca a biodiversidade que descreve à disposição da sociedade. Apenas a partir do momento em que uma espécie é descrita, é que a sociedade terá novas unidades de vida das quais pode usufruir enquanto recurso biológico, quer na área da medicina, quer na área da cosmética, da arquitetura e de muitas outras mais. Nesse momento, a biodiversidade também ganha ao ter um nome porque é a partir daí que pode ser incluída em listas de espécies ameaçadas e em planos de conservação da natureza.
Bactérias, Esponjas e Cnidários estão no topo da lista
A biodiversidade descrita pelos investigadores do CIIMAR inclui espécies maioritariamente marinhas. Nesta biodiversidade a generalidade dos taxa descritos foram bactérias (30), seguindo-se em número pelas esponjas (24), e depois pelos cnidários endoparasitas de peixes, os Myxozoa (20). Os restantes integram organismos como as cianobactérias, ursos-de-água ou tardígrados, peixes, microalgas, diatomáceas, platelmintes, copépodes e nemátodes.
A maioria das bactérias descritas por investigadores do CIIMAR pertencem ao Filo Planctomycetota e ocorrem com frequência em biofilmes associados a macroalgas ou esponjas. Por exemplo, uma amostra de alface-do-mar (
Ulva sp.) recolhida em Viana do Castelo levou à descoberta de um biofilme com o novo género
Roseimaritima, nomeado
assim devido à cor rosada da bactéria.
No que diz respeito às esponjas, a mais recente espécie de esponja a ser descrita por investigadores do CIIMAR,
Hemimycale funchalensis, é da ilha da Madeira. O seu nome, apesar de não ser relativo ao local de distribuição, honra o Museu de História Natural que se localiza na cidade do Funchal, pelo seu trabalho de preservação da fauna marinha da Madeira.
Já nos Cnidários, o trabalho dos investigadores do CIIMAR resultou na descoberta de 20 espécies novas de endoparasitas obrigatórios de peixes ósseos e cartilagíneos. Como exemplo, foi recentemente descoberta na Tunísia a espécie
Chloromyxum dasyatidis que foi encontrada na vesícula da raia-comum
Dasyatis pastinaca.
Entre novos taxa, já foram também descritos 20 espécies de cianobactérias no CIIMAR. A coleção de referência de cianobactérias do CIIMAR, a LEGE-CC, preserva mais de 2000 estirpes que são utilizadas para investigação científica na área da biotecnologia azul e na descrição de nova biodiversidade. Em 2024, por ocasião do aniversário do CIIMAR, foi descrito em sua honra o novo género
Ciimarium que inclui a nova espécie
Ciimarium marinum, isolada das imediações do porto de Leixões.
Um legado com impacto no futuro da ciência
O total de 117 taxa descritos em 25 anos de existência é um legado que o CIIMAR deixa para a posteridade. Este legado é divulgado hoje, dia em que decorre o evento final do Biobanco Azul Português, uma rede nacional de biobancos que o CIIMAR coordena e para a qual contribui com a criação de novas coleções biológicas de referência. Estas coleções potenciam a descoberta de diversidade nova e o trabalho de atuais e futuros taxonomistas, que as podem usar como base comparativa e repositório dos espécimes e estirpes marinhos descritos.
A biodiversidade marinha por descrever ou ´dark taxa´ é mais numerosa do que a que já conhecemos. Muitas espécies marinhas aguardam a nossa atenção. Nesse sentido, a taxonomia é fundamental para conhecer, usufruir e conservar a biodiversidade marinha. No futuro, esperamos ver o trabalho essencial da taxonomia trazer mais biodiversidade à luz do CIIMAR.
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