● Publicado na Nature, este atlas será um recurso de livre acesso para a investigação.

● Uma equipa internacional de cientistas publica o NeuMap, o primeiro atlas que revela a arquitetura global dos neutrófilos, mostrando como esta “primeira linha de defesa” se reorganiza para proteger, recordar e curar.

● O estudo, liderado por investigadores do CNIC, da Universidad Carlos III de Madrid, da Universidade de Yale e da Universidade de Westlake, redefine a nossa perspetiva sobre a imunidade.

Os neutrófilos são as células mais abundantes do sistema imunitário e as primeiras a reagir quando surge uma infeção ou uma lesão no organismo. Todavia, pese embora a importância que têm, até agora sabia-se muito pouco sobre como funcionam realmente, como mudam em função do tecido em que se encontram ou como contribuem, quer como sistema de defesa, quer nas doenças inflamatórias, cardiovasculares ou no cancro. O seu papel é tão diversificado que podem salvar-nos a vida no caso de uma infeção, mas também agravar a inflamação em contextos como o da COVID-19.

Para entender esta complexidade, um consórcio internacional liderado por cientistas do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares (CNIC), da Universidad Carlos III de Madrid (UC3M), da Universidade de Yale (EUA) e da Universidade de Westlake (China) desenvolveu o NeuMap, o primeiro mapa global que descreve a organização dos neutrófilos ao longo de tecidos, das etapas da vida e das doenças. Com o NeuMap, os cientistas dispõem pela primeira vez de um guia claro para navegar na enorme complexidade dos neutrófilos, estreando uma nova etapa na compreensão e controlo do sistema imunitário. Neste estudo, publicado na revista Nature, são analisadas mais de um milhão de células, com recurso a tecnologias de sequenciação de última geração.

“O mais surpreendente ― explica o Dr. Iván Ballesteros, professor do Departamento de Neurociências e Ciências Biomédicas e da Faculdade de Ciências da Saúde da UC3M e investigador do CNIC ― é que cada neutrófilo vive apenas algumas horas, mas juntos mantêm uma arquitetura estável durante toda a vida. É um padrão que emerge do caos. Compreender esta lógica abre novas vias para aprender a guiar a imunidade na direção da cura”.

Este trabalho mostra também que a falta de uma referência clara tinha limitado, até agora, a capacidade de interpretar o verdadeiro papel destas células. Os estudos anteriores estavam muito centrados em doenças concretas, como o cancro ou as infeções, explica o investigador Yale-CNIC, Andrés Hidalgo: “Aqui, reunimos uma variedade enorme de condições, desde a gravidez e o desenvolvimento do feto até às infeções, ao cancro, enfarte ou envelhecimento”.

”Ao integrar todos estes dados ― acrescenta Daniela Cerezo-Wallis, co-primeira autora e investigadora na Universidade de Yale ― pudemos observar como os neutrófilos seguem padrões comuns apesar da sua aparente diversidade”. As análises entre espécies, indica Andrea Rubio-Ponce, também co-primeira autora e investigadora do CNIC, mostram que muitos destes programas celulares são surpreendentemente similares no rato e no ser humano. “Isto facilita muito a transferência das descobertas para os ensaios clínicos e agiliza o desenvolvimento de biomarcadores e de novas terapias”, acrescenta Laiguan Ng, da Universidade de Westlake.

Além de organizar um campo tradicionalmente fragmentado, o NeuMap disponibiliza uma ferramenta prática, que permitirá à comunidade científica identificar quais os tipos de neutrófilos que estão presentes numa doença e qual a função que poderiam desempenhar. Os autores sublinham que este atlas será um recurso de livre acesso para investigadores de todo o mundo.

Esta investigação teve o financiamento das seguintes instituições: Cancer Research Institute; Ministério da Ciência, Investigação e Universidades/Agência Estatal de Investigação (AEI); Fundação BBVA; Worldwide Cancer Research; NIH; Deutsche Forschungsgemeinschaft; Fundação Leducq; IZKF/IMF Münster; Bachynski Family Foundation; Canada Foundation for Innovation; National Medical Research Council e Skin Research Institute of Singapore; National Natural Science Foundation of China; União Europeia “NextGenerationEU/PRTR, e Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER).

Referência bibliográfica: Cerezo-Wallis, D., Rubio-Ponce, A., Richter, M., Pitino, E., Kwok, I., Marteletto, G., Guanolema-Coba, A. C., Shih, C., Huang, R.-K., Moraga, A., Borbaran Bravo, N., Doré, S., Callejas, S., Aragonés, D. G., Jiménez-Carretero, D., Martin, D., Ovadia, S., Vicanolo, T., Crainiciuc, G., … Ballesteros, I. (2025). Architecture of the neutrophil compartment. Nature. https://doi.org/10.1038/s41586-025-09807-0