A Universidad Carlos III de Madrid (UC3M) desenvolveu um catálogo interativo com a geolocalização de cidades de Espanha e da América Latina que receberam nomes da antiguidade greco-romana, ou que foram comparadas com cidades antigas. Esta iniciativa, desenvolvida no âmbito do projeto de investigação ANTIMO, pretende oferecer um novo olhar sobre a modernização, o progresso e a construção de modelos políticos através de referências clássicas.
O mapa não se refere apenas às duas principais cidades greco-romanas, Atenas e Roma, mas inclui também uma grande variedade de nomes e localizações. "Identificámos mais de 200 cidades, mas sabemos que ainda há mais por descobrir. Além disso, localizámos espaços geográficos que, sem serem cidades, também se referem à antiguidade clássica e que poderão enriquecer este catálogo no futuro", explica a investigadora que dirige este projeto, Mirella Romero Recio, diretora do Instituto de Historiografia Julio Caro Baroja, da UC3M.
Este registo, concebido como uma ferramenta de consulta académica e desenvolvido por investigadores da UC3M, com a colaboração do serviço de bibliotecas da Universidade, permite ao utilizador localizar estas cidades através de diferentes modos de navegação: desde a pesquisa pelo nome (tanto da cidade antiga como da moderna) até ao acesso a um mapa onde se pode visualizar o globo terrestre. Ao selecionar a cidade escolhida, é possível aceder a um ficheiro com informação detalhada que relaciona o seu nome com o legado clássico a que alude, bem como a fonte onde é mencionada e o texto em que é citada.
“A biblioteca da UC3M desempenhou um papel fundamental na normalização dos dados e na definição dos critérios que regem este sistema de catalogação”, afirma Teresa Boyer Lagos, diretora da Biblioteca de Humanidades, Comunicação e Documentação da UC3M. "Um dos principais desafios foi o mapeamento dos metadados segundo a norma internacional Dublin Core, que garante a interoperabilidade e a normalização do sistema para a sua futura integração em repositórios científicos e plataformas de dados abertos”.
O projeto, por sua vez, retoma e amplia a investigação anterior realizada no âmbito do projeto RIPOMPHEI, que analisou o papel da cidade de Pompeia no imaginário das elites latino-americanas, como símbolo de modernidade e distinção face ao passado colonial. Ao mesmo tempo, procura ir além de uma simples compilação toponímica para explorar a forma como as referências à Grécia e a Roma foram instrumentalizadas em diferentes contextos históricos e políticos.
"As comparações com Atenas e Roma não são usadas apenas como símiles urbanos, mas são utilizadas em discursos modernos para legitimar políticas e projetar ideais sociais. Atenas, por exemplo, é geralmente comparada com cidades que querem destacar-se pelo seu prestígio em relação às artes e à literatura. Roma, por seu lado, é comparada às cidades que se querem destacar pelo seu poder político ou económico", explica Mirella Romero. "No entanto, nos últimos anos, temos visto como certas figuras políticas invocam modelos autoritários do passado romano para justificar posições de poder reacionárias e masculinizadas.
Nos próximos anos, a equipa de investigação planeia aprofundar as linhas de trabalho que integrem uma perspetiva de género. Um dos seus objetivos prioritários será tornar visíveis as mulheres que, em diferentes momentos históricos, utilizaram o legado da Antiguidade como argumento para defender os seus direitos, o acesso à educação e a participação na vida política.
O projeto ANTIMO, “Antiguidade Modernizada: Grécia e Roma ao serviço da ideia de civilização, ordem e progresso em Espanha e na América Latina”, foi financiado pelo Ministério da Ciência, Inovação e Universidades, pela Agência Estatal de Investigação (PID2021-123745NB-I00, MCIN/AEI/10.13039/501100011033) e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Mais informações:
https://humanidadesdigitales.uc3m.es/s/antimo/page/inicio1
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xs2P0ZFEv5k