Investigadores analisaram o perfil de adultos que alegam ter memórias de vidas passadas, as características dessas memórias e as associações com a saúde mental, felicidade e religiosidade/espiritualidade. Os resultados indicaram uma elevada prevalência de sintomas de distúrbios mentais, sendo a religiosidade e espiritualidade um fator de proteção.
A maioria das tradições religiosas e espirituais em todo o mundo partilha a crença na existência de um plano transcendental e/ou na continuidade da vida após a morte física. Esta convicção é comum entre a população adulta de 35 países nos seis continentes, com percentagens que variam entre 38% na Suécia e 85% na Indonésia.
Um inquérito recente, envolvendo amostras nacionalmente representativas em 22 países de todos os continentes, concluiu que não há países onde a maioria da população afirme não acreditar na vida após a morte, sendo que a maioria respondeu “sim” ou “não sabe” a essa questão.
Embora existam estudos sobre alegadas memórias de vidas passadas (MVP) em crianças, ainda há pouco conhecimento sobre casos em adultos e sobre o impacto das MVP nos que as reivindicam. Para colmatar essa lacuna, Sandra Maciel de Carvalho e equipa analisaram o perfil de adultos que alegam ter MVP, incluindo dados sociodemográficos, as características dessas memórias e as associações com saúde mental, felicidade e religiosidade/espiritualidade.
Com o apoio da Fundação BIAL, os investigadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (Brasil) e da Universidade da Virgínia (EUA) aplicaram pela primeira vez um inquérito online a uma amostra de 402 adultos residentes no Brasil que relataram ter memórias de vidas passadas. Neste país, 66% dos cidadãos afirmam que provavelmente ou definitivamente existe vida após a morte, sendo que 33% acreditam que as pessoas renascerão neste mundo.
A maioria dos participantes da amostra tinha idade média de 41,6 anos, era do sexo feminino (79%), com ensino superior (68%), espíritas (54,5%) e muito/moderadamente espirituais (91%). As MVP começaram espontaneamente em 82% dos casos, em média aos 19,9 anos. Marcas/defeitos de nascimento (54%), filias invulgares (atrações ou interesses intensos e incomuns; 30%) e fobias na infância (71%), bem como fobias persistentes (71%), foram características associadas comuns encontradas nos participantes.
Os resultados obtidos foram divulgados no artigo “
Who Does Report Past-Life Memories? Claimers’ Profile, Religiosity/Spirituality and Impact on Happiness and Mental Health”, publicado em julho na revista científica
The International Journal for the Psychology of Religion e indicaram que as características das MVP dos participantes no estudo são semelhantes às habitualmente relatadas em casos de crianças, com exceção da predominância feminina.
As filias e fobias na infância estão associadas, nesta amostra, a menor felicidade e a mais sintomas de perturbações mentais (46%), o que pode indicar um impacto psicológico duradouro associado às MVP. A perturbação de stress pós-traumático (36%) foi associada a fobias. Já a religião/espiritualidade esteve associada a maior felicidade e menores resultados em distúrbios mentais, podendo atuar como fator de proteção.
De acordo com Sandra Maciel de Carvalho, “este estudo demonstrou que as MVP em adultos podem ser mais prevalentes do que se pensava e podem estar associadas a sofrimento e angústia significativos”. As MVP podem constituir uma “questão relevante na saúde mental, sendo necessários mais estudos sobre a sua prevalência, impacto e abordagem clínica adequada”, realça a investigadora.
Saiba mais sobre o projeto “89/18 - National survey of "Cases of Reincarnation Type" in Brazil”
aqui.