Estudo analisou o impacto que as crenças ilusórias sobre a saúde podem ter nos comportamentos e práticas de saúde. Os resultados revelaram que quanto mais forte é a crença em ideias pseudocientíficas, maior é a desconfiança em relação à medicina convencional e a procura por terapias não validadas, o que pode colocar em risco a saúde e o bem-estar.
As crenças que temos sobre saúde moldam, muitas vezes de forma inconsciente, as decisões que tomamos no dia a dia. Contudo, nem todas essas crenças assentam em bases científicas sólidas. Algumas, embora bem-intencionadas, são crenças ilusórias sobre a saúde, ou seja, ideias erradas que nos podem afastar de práticas eficazes e conduzir a escolhas que podem prejudicar a nossa saúde.
Um exemplo é a Medicina Complementar e Alternativa (MCA), cujas práticas podem até proporcionar bem-estar e alívio, com efeitos inofensivos. No entanto, a rejeição generalizada de abordagens baseadas na evidência científica pode apresentar riscos graves para a saúde.
Para compreender como as crenças ilusórias sobre a saúde se relacionam com a utilização dos cuidados de saúde regulares e com a adoção de comportamentos cientificamente recomendados, uma equipa liderada por Andrew Denovan, com o apoio da
Fundação BIAL, realizou um estudo com 1507 participantes recorrendo a modelos estatísticos.
No artigo
“The relationship between illusory health beliefs, recommended health behaviours, and complementary and alternative medicine: An investigation across multiple time points”, publicado em maio na revista científica
Behavioral Sciences, os investigadores da
Liverpool John Moores University e da
Manchester Metropolitan University (Reino Unido) explicam que analisaram a adesão aos comportamentos de saúde recomendados (por exemplo, estilo de vida, vacinas) e a confiança nos profissionais de saúde versus a utilização da MCA.
Os resultados revelaram um padrão claro: quanto mais forte é a crença em ideias pseudocientíficas, maior a desconfiança em relação à medicina convencional e maior a procura por terapias não validadas. O estudo revelou ainda que há fatores que podem diminuir ou mesmo suprimir a intensidade deste padrão. É o caso da valorização da ciência e da perceção de controlo pessoal sobre a saúde, o chamado locus de controlo interno, que estão associados a decisões mais informadas, a uma maior adesão às recomendações de saúde e confiança nos profissionais de saúde, e a uma atitude crítica face a práticas pseudocientíficas.
“É importante termos presente que, embora certas abordagens da MCA possam ter valor complementar, sobretudo em contextos como os cuidados paliativos, rejeitar a medicina convencional baseada na evidência científica pode resultar em consequências graves, como a hesitação vacinal ou o adiamento de diagnósticos importantes”, sublinha Andrew Denovan.
“Este foi o primeiro estudo a explorar as relações preditivas e mediadoras entre as crenças ilusórias sobre a saúde e os resultados de saúde”, revela o investigador, reforçando que “compreender estas dinâmicas é um passo fundamental para fortalecer a literacia em saúde e promover escolhas verdadeiramente informadas”.
Saiba mais sobre o projeto “69/22 - Psychometric validation of a questionnaire for assessing paranormal health beliefs and statistically modelling the effects of the construct on health outcomes longitudinally”
aqui.